quinta-feira, 18 de outubro de 2007

História da Semana: "Um Lobo Culto"

Depois de caminhar durante muitos dias, um Lobo chegou a uma pequena cidade. Estava cansado e com fome, doíam-lhe os pés e só lhe restava algum dinheiro que estava a guardar para uma emergência.Então, teve uma ideia: "Há uma quinta fora da cidade", pensou. "Hei-de encontrar lá alguma coisa para comer...

Quando espreitou por cima da cerca, viu um porco, um pato e uma vaca. Estavam a ler sentados ao sol.

O lobo nunca tinha visto animais a ler. “Os meus olhos estão a pregar-me partidas”, pensou. Mas, como tinha muita fome, não pensou mais no assunto.Pôs-se muito direito, respirou fundo... e precipitou-se sobre os animais soltando um rugido:


Aaa-OOOOO-ooo!

As galinhas e os coelhos fugiram a correr, mas o Pato, o Porco e a Vaca não se mexeram.— Que chinfrim é este? — resmungou a Vaca. — Não consigo concentrar-me no livro.

— Ignora-o — aconselhou o Pato.0 Lobo não gostou de ser ignorado.— Qual é o vosso problema? — perguntou o Lobo. — Não vêem que eu sou um grande lobo mau?— Não tenho dúvida nenhuma — respondeu o Porco. — Mas não poderias ir ser grande e mau para outro sítio? Nós estamos a ver se lemos. Esta quinta e para animais educados. Sê um lobo bonzinho e vai-te embora — disse o Porco, empurrando-o.

0 Lobo nunca fora tratado daquela maneira."Animais educados... animais educados!", dizia ele com os seus botões. "Nunca tal vi. Muito bem! Vou também aprender a ler!" E lá foi ele para a escola.As crianças estranharam um pouco ter um lobo na sala de aula, mas, como não tentava comer ninguém, acabaram por se habituar à sua presença.
0 Lobo era estudioso e, depois de se esforçar muito, aprendeu a ler e a escrever. Daí a pouco era o melhor da turma.Muito satisfeito, o Lobo voltou à quinta e saltou a cerca. "Vão já ver”, pensou.
Abriu o livro e começou a ler:

"0 Romeu deu a comida ao cão."
— Ainda tens de comer multa batata — disse o Pato, sem mesmo se dar ao trabalho de levantar os olhos do livro. E o Porco, o Pato e a Vaca continuaram a ler os seus livros sem parecerem nada impressionados.

O lobo saltou outra vez a cerca e correu… direito à biblioteca. Estudou muito, leu montes de livros poeirentos e treinou até ser capaz de ler sem parar.“Agora já devo estar bom para eles”, disse para consigo.O Lobo caminhou até ao portão da quinta e bateu. “Isto vai impressioná-los, com toda a certeza”, pensou.




O Lobo abriu o livro Os Três Porquinhos e começou a ler:


"EmtemposquejálávãohaviatrêsporquinhosUmdiaamãechamou-osedisse-lhes…"

— Pára com a ladainha — interrompeu o Pato.— Já melhoraste — disse o Porco — mas ainda tens de trabalhar a entoação.O Lobo meteu o rabo entre as pernas e foi-se embora. Mas o Lobo não ia desistir. Contou o pouco dinheiro que lhe restava e foi à livraria onde comprou um belo livro de histórias.

O seu Primeiro Livro!Ia lê-lo dia e noite, letra por letra e linha por linha. Havia de conseguir ler tão bem que os animais da quinta não poderiam deixar de o admirar.— Ding-dong! — tocou a campainha do portão.Estendeu-se no chão, instalou-se confortavelmente, pegou no livro novo e começou a ler.

Lia cheio de confiança e entusiasmo e o Porco, a Vaca e o Pato escutavam sem dizer uma palavra.Assim que ele acabava uma história, o Porco, a Vaca e o Pato pediam ao Lobo que fizesse o favor de lhes ler mais uma.E o Lobo leu uma história atrás da outra. Tão depressa era um génio a sair da lâmpada, como o Capuchinho Vermelho ou um pirata fanfarrão.

— Isto é demais! — exclamou o Pato.— É um mestre! — disse o Porco.—por que é que não ficas a fazer um piquenique connosco? — convidou a Vaca.E lá fizeram o piquenique, o Porco, a Vaca, o Pato e o Lobo. Estenderam-se na erva e passaram a tarde a contar histórias.
— Podíamos tornar-nos contadores de histórias — lembrou a Vaca de repente.— Podíamos viajar pelo mundo fora — acrescentou o Pato.— Podemos começar já amanhã — disse o Porco.O Lobo esticou-se na erva. Estava feliz por ter aqueles amigos maravilhosos.

Autor: Pascal Biet