terça-feira, 23 de outubro de 2007

O concerto das alforrecas

Caminhava ao longo da praia deserta... Era Setembro.
Apenas o vento fazia mexer os seus caracóis dourados. Vasco sentia-se só…de repente ouve uma voz:
- Ei, cuidado aí, pisaste-me…
Era a alga do mar que o Vasco tinha pisado. Ele ficou muito espantado, porque a alga falou. Ele disse:
- Tu falas?!
- Sim falo! Senão, não podia cantar com as minhas amigas – disse a alga.
- Cantar? - perguntou o Vasco.
- Sim cantar. Eu e as minhas amigas damos alguns espectáculos com as alforrecas, elas são as bailarinas. Está uma placa na entrada da praia. Mas tu não deves ter percebido. Está em “martuguês”. Queres vir ao espectáculo? - disse a alga.
- Sim. Claro que sim. Obrigada pelo o convite – disse o Vasco.
- De nada. De certeza que vais gostar do espectáculo – disse a alga.
O Vasco adorou o espectáculo e ficou muito amigo das algas e das alforrecas…

Quando a festa acabou era noite. O menino agradeceu às bailarinas e foi para casa, mas antes de sair combinou encontrar-se com elas, no dia seguinte, na praia.
No outro dia, pela manhã, encontraram-se todos na praia, como estava prometido.
- Bom dia! – disse o Vasco.
- Bom dia! – responderam as algas e as alforrecas.
O menino propôs às amigas várias actividades que fariam ao longo do dia, tais como: nadar, fazer construções na areia e jogar à bola. Na hora de maior calor sentar-se-iam à sombra para dormirem uma sesta repousante.Todos concordaram.
No final do dia, despediram-se e foram para casa.
Tomaram banho, jantaram, deitaram-se, adormeceram e sonharam…
De manhã , quando o Vasco acordou , foi logo para a praia , para contar o seu sonho às suas amigas alforrecas e algas. Mas, quando o Vasco chegou, não viu as suas amigas e ficou triste porque tinha muitas novidades para contar às suas amiguinhas.
De repente apareceu o polvo...

- Olá ! Bom dia ! - disse o polvo.
- Olá ! Quem és tu? – perguntou o Vasco.
- Eu sou o polvo e sei onde estão as tuas amiguinhas.
- Onde estão as amigas algas e alforrecas? – perguntou o Vasco.
- Estão a ensaiar para o concerto de logo à noite... e tu estás convidado! – disse o polvo.
- Oh! Que bom! Eu quero tanto estar com elas nesse concerto.
- Pois então respira fundo e vem daí, vamos até ao fundo do mar... Vai ser um grande concerto!


- Vamos mergulhar! – disse o polvo.
E lá partiram até ao fundo do mar. Quando lá chegaram, o Vasco encontrou as suas amigas algas e alforrecas que estavam acompanhadas pela orca, golfinhos, tubarões, tartarugas, estrelas-do-mar, caranguejos, mexilhões e muitos peixes. Estavam todos preparados para o concerto, que começou logo que o Vasco chegou.
Para anunciar o espectáculo entrou, aos saltos, o golfinho:
- Boa noite a todos! O espectáculo vai começar!
E lá entrou o polvo que com todos os seus braços se pôs a tocar bateria na concha das tartarugas... Foi então ao som entusiasmante da bateria que o golfinho voltou e apresentou o resto da orquestra:
- Amigos e amigas agora convosco na guitarra a sardinha, na flauta a raia, no xilofone o tubarão, na harpa a baleia, nas maracas o caranguejo, na corneta o peixe-palhaço, no violino a estrela do mar, no trompete a lula, no saxofone o cachalote, na gaita o camarão, nas castanholas a lagosta, na pandeireta o cavalo-marinho, no acordeão o choco e nos ferrinhos o búzio.

E por fim as magestosas alforrecas dançarinas para acompanhar as grandiosas algas cantoras.

Uma enorme salva de palmas para todos e que comece o concerto!!!

De repente, e para espanto de todos, tudo ficou escuro!... que terá acontecido?!


O pânico instalou-se e todos ficaram paralisados...


Que medo!

Passados poucos instantes, que a todos pareceram horas, eis que surge um mergulhador, com um holofote, pois sabia da escapadela do Vasco até ao fundo do mar.


- Avisam-se todos os presentes do perigo que correm, visto que um grande petroleiro teve um acidente e largou imenso crude na superfície do mar. ( Falou em voz alta e sonora o mergulhador).


Logo o Vasco tratou de nadar com toda a sua energia até à superfície e, ao emergir, ficou todo negro e peganhento...

De repente surge um barco da polícia Marítima e o Vasco acena pedindo ajuda, pois estavam todos em perigo!

O barco aproxima-se e ao chegar à praia os polícias limpam o Vasco com uma substância "anti-crude".


O Vasco fica com o seu corpo limpo e com a ajuda da polícia Marítima, começam a lançar ao mar bombas para aspirar todo o crude derramado pelo petroleiro.


Em poucas horas conseguem limpar o mar e salvar todos os animais e algas que se encontram no fundo do mar a assistir ao concerto.


O concerto recomeça com músicas alegres e divertidas e repentinamente, sentem o fundo do mar a tremer...


Tudo fica alvoraçado!


-Isto só pode ser um pesadelo, disse o Vasco!...


- Cuidado! Fujam! Rápido, rápido, salvem os instrumentos! - gritou o golfinho.


Uma enorme tempestade, com ondas gigantes e com ventos fortes, provocou estragos no petroleiro, partindo-o ao meio.


As águas do oceano engoliram a proa do barco que fez estremecer o fundo do mar. Só depois se afundou a popa.


A tristeza tomou conta do Vasco e dos seus amigos pois muitos peixes acabaram por morrer. E preocupados,muito preocupados!


Mas o polvo engenhocas foi espreitar, Com o seu ar curioso estendeu os seus tentáculos e pôs o motor do navio a trabalhar.


-Ah! Como conseguiste? - perguntou o Vasco, surpreendido.


-Afinal, eu sou um engenhocas!


E começaram a levar os instrumentos para o interior da popa do barco. A aventura ia iniciar-se.


Viajaram pelo fundo dos oceanos, apresentaram a sua música e falaram da poluição dos mares.


O tempo foi passando e os instrumentos enferrujaram.


No dia seguinte, quando o Vasco chegou ao pé das suas amigas, viu que estavam todas tristes.


- O que se passa? - perguntou o Vasco.


- Os nossos instrumentos estão todos enferrujados !... - disse o polvo


- Já não conseguimos dar concertos ! - disseram as alforrecas em conjunto.


O Vasco, ao ver tanta tristeza teve uma ideia...


De repente o Vasco desapareceu.Ninguém sabia dele.


Passados quatro dias, os amigos do fundo do mar, receberam um grande presente, com um grande laço verde.


- O que é isto? - perguntou o choco.


- Quem nos enviou? - perguntou o peixe-palhaço.


- Será uma bomba? - diz o camarão muito aflito.


- Fujam, fujam... - disse o cavalo-marinho escondido atrás da baleia.


Todos ficaram espantados sem saber se abriam ou não aquele presente misterioso.



O polvo engenhocas e muito corajoso com os seus grandes tentáculos, desatou, sem medo, o laço verde e a caixa abriu-se:
- Uauh! - disseram todos os animais ao mesmo tempo.


- Instrumentos novos? - perguntaram todos os animais.


- Quem nos teria enviado? - perguntou a lula.


- Será que foi o Vasco? - perguntou o carapau atrevido.


- Será que foi o mergulhador? - perguntou a baleia intrigada.


- Será que foi a polícia marítima? - perguntaram os búzios.


Depois de tantas perguntas sem resposta, os animais aproximaram-se ordenadamente do presente e cada um retirou o seu instrumento.


Afinaram os instrumentos e começaram a tocar um "chá-chá-chá".
Estavam muito felizes!
Todos os peixes que por ali passavam, pararam e dançaram o "chá-chá-chá".
De repente o trompete fez um som estranho e, misteriosamente, saiu lá de dentro uma mensagem estranha...

A mensagem não estava escrita em “martuguês” mas sim em Português. Tinha sido o Vasco que a tinha enviado. A mensagem dizia:
- Queridos amigos, enviei-lhes estes instrumentos musicais para os poderem tocar na minha festa de anos.
Desde já, estão todos convidados para este evento, que se realizará na minha piscina de água salgada.
Todos ficaram muito entusiasmados, mas o polvo perguntou:
- Como vamos para lá? Nós não podemos respirar fora de água!
- Ah, já sei! – disse a tartaruga.
– Vamos na nave marítima que contém água salgada e nos pode levar até à piscina do Vasco.
E assim foi. No outro dia, partiram na nave marítima e deram um grande concerto na piscina de água salgada do Vasco.
Estava lá um produtor cinematográfico que os convidou para fazer um filme. O filme quando estreou foi um enorme sucesso e o grupo ficou conhecido em todo o mundo, conseguindo dinheiro para comprar um navio limpa-petróleo.